Senhor !
Entre aqueles que te pedem proteção, estou eu também,
servo humilde a quem mandaste extinguir o flagelo da
fome.
Partilhando o movimento daqueles que te servem, fiz
hoje igualmente o meu giro. Vi-me freqüentemente
detido, em lares faustosos, cooperando nas alegrias da
mesa farta, mas vi pobres mulheres que me estendiam,
debalde, as mãos !...
Vi crianças esquálidas que me olhavam ansiosas, como
se estivessem fitando um tesouro perdido.
Encontrei homens tristes, transpirando suor, que me
contemplavam agoniados, rogando em silêncio para que
lhes socorresse os filhinhos largados ao extremo
infortúnio...
Escutei doentes que não precisavam tanto de remédio,
mas de mim, para que pudessem atender ao estômago
torturado !...
Vi a penúria cansada de pranto e reparei, em muitos
corações desvalidos, mudo desespero por minha causa.
Entretanto, Senhor, quase sempre estou encarcerado por
aquelas mesmas criaturas que te dizem honrar.
Falam em teu nome, confortadas e distraídas na
moldura do supérfluo, esquecendo que caminhaste no
mundo, sem reter
uma pedra em que repousar a cabeça.
Elogiam-te a bondade e exaltam-te a glória, sem
perceberem junto delas, seus próprios irmãos fatigados e
desnutridos.
E, muitas vezes, depois de formosas dissertações em
torno de teus ensinos, aprisionam-me em gavetas e
armários, quando não me trancam sob a tela colorida de
vitrines custosas ou no recinto escuro dos armazéns.
Ensina-lhes, Senhor, nas lições da caridade, a dividir-me
por amor, para que eu não seja motivo à delinqüência.
E, se possível, multiplica-me, por misericórdia, outra vez,
a fim de que eu possa aliviar todos os famintos da Terra,
porque um dia, Senhor, quando ensinavas o homem a
orar, incluíste-me entre as necessidades mais justas da
vida, suplicando também a Deus:
“O pão nosso de cada dia dai-nos hoje.”
Memei
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