Eu
te perdôo, ó peixe,
pelo último olhar que me diriges,
pelo salto viril preso ao
anzol
e pelo cheiro denso das marés aderentes nas tuas guelras.
Eu
te perdôo, ó peixe,
pelo sabor da tua saudável carne,
pelas escamas raspadas de
tua pele escura,
e pelas espinhas que não ousaram atravessar minha garganta.
Eu
te perdoo pelo alimento
que nutre meu corpo ávido de proteínas.
Como
um áugure li nas tuas entranhas
que o teu mundo só se vinga em prantos,
mas tu
não chorarias tuas lágrimas
porque já vives nela todo o tempo.
São
os homens como eu
que precisam da tua vida curta para seguir a evolução da vida
e se sentirem imersos nas nuvens dos deuses.
Eu
te agradeço, ó peixe,
pelo teu nado predador nos rios correntes;
pelo espalhar
das sementes das matas ciliares
e pela liquidez do teu habitat onde és mais que
um animal,
és ente da floresta, és alma,
mas apenas corpo e sangue para os
homens
que te matam e que te comem sem piedade.
ó peixe, nem me agradeças.
Eu sou apenas a tua extensão nas minhas veias.
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